Essa noite não dormimos de ansiedade, e agora não vamos dormir de assustados. A frase do jovem L.G, 18 anos, resume o sentimento que ele, o pai C.G, 42, e a mãe M.R, 40, tinham ontem. Com exceção do caçula de sete anos, que não entendia bem o que rolava, os três estavam incrédulos e até mesmo envergonhados depois que quase caíram no famoso do golpe do chute. A família, dona de uma fábrica de calhas, veio de Papanduva, no norte do estado, para comprar alumínio vindo de uma suposta apreensão da receita Federal. Marina Margarete Diniz, 49 anos, e Maristela Cegatta, 40, as duas mulheres presas como sendo estelionatárias, estavam oferecendo a mercadoria por um preço muito abaixo do praticado pelo mercado. Por muito pouco a família não perdeu R$ 25 mil.
Quem avisou a polícia e as próprias vítimas que tudo não passava de uma enganação foi o dono da lanchonete onde rolou parte das negociações. As golpistas de saia, presas pela Polícia Militar, negam ...
Quem avisou a polícia e as próprias vítimas que tudo não passava de uma enganação foi o dono da lanchonete onde rolou parte das negociações. As golpistas de saia, presas pela Polícia Militar, negam o crime. Garantem que só queriam vender persianas.
O golpe do Chute é caracterizado quando os golpistas se passam por funcionários da receita Federal que estariam vendendo mercadorias apreendidas por um preço muito abaixo do praticado pelo mercado. Porém, na hora da entrega, fogem com a grana das vítimas.
Uma disse que vendia persiana, a outra que era da receita Federal
Para enganar a família de empresários, Marina se fez passar por Andreia, uma vendedora de persianas. Disse que conhecia uma funcionária da receita Federal, que teria um esquema pra vender chapas de alumínio a R$1,80 o quilo. A proposta fez crescer o bago do zolho dos donos da fábrica de calhas, que costumam pagar pela mesma mercadoria algo perto de R$ 12.
Iludidos com a oferta, L. e os pais correm ontem a Itajaí para ver o produto e fechar o negócio. Diferente do que havia sido combinado, o encontro não aconteceu no prédio da receita Federal ou no pátio de um porto seco, onde supostamente a mercadoria estaria guardada. O conversê rolou numa lanchonete no centro da city peixeira.
Foi ali, no bareco, que a família se encontrou com Maristela. Emperequetada como se fosse uma funcionária da receita Federal, a guria usava até um broche do órgão. Ela se apresentou como Fátima, com quem a família faria a negociação.
Depois de ver o catálogo com os produtos, a família fechou o negócio sem desconfiar de que estava caindo numa armadilha. Na fé, entregaram às duas golpistas a sacola com R$ 25mil.
Foi aí que Sandro Pereira, 41, dono da lanchonete, indignado com a sacanagem, entrou na parada. Ele estava ouvindo toda a conversa e, como já desconfiava da golpistas de saia, alertou os empresários de Papanduva que poderiam estar entrando numa furada justamente no momento em que as golpistas deixavam o local. Uma das mulheres escutou a dica de Sandro e, contrariada, chegou a dizer que se a família preferisse poderia desfazer o negócio. Ela ficou bastante nervosa, lembrou C..
Sem ter certeza se tudo era um golpe ou não, ele propôs ao filho que fosse no carro de Marina até o tal porto seco onde estaria a mercadoria, como uma forma de garantia. Enquanto isso, Maristela tratava de sair de fininho.
O carro da golpista seguiu à frente, seguido pelo dono da fábrica de calhas. C. teve dificuldades em seguir a mulher e admite que chegou a passar no sinal vermelho algumas vezes para não perder vista a tal funcionária da Receita. Por precaução, ele acionou a PM, que já havia sido avisada pelo dono da lanchonete. Podia ser que não fosse nada, mas podia ser uma furada, ponderou o empresário.
Marina foi cercada e presa em frente ao hospital Pequeno Anjo, ainda no centro. De lá, os fardados seguiram até o ponto de ônibus em frente ao hospital Marieta Konder Bornhausen, onde Maristela aguardava a comparsa.
- Mulheres presas juram que são inocentes
Algemadas e sentadas numa das salas da depezona da rótula do Vanolli, as duas mulheres negaram as acusações. Marina disse ser vendedora de persianas. Afirmou que trouxe a família da Papanduva para fazer um negócio em Itajaí e que acabou sendo enganada pelos clientes. Perguntada sobre o golpes do chute, se limitou a dizer: Não sei nada disso!.
Maristela, mais inquieta, disse ser aposentada e fazer uns bicos com Marina. Ela me ajuda, alegou. Quanto aos R$ 25 mil, jurou que a grana é sua e que seria usada para comprar um carango.
Dono de lanchonete foi o herói da história
Essa não teria sido a primeira vez que uma das golpistas usou a lanchonete de Sandro Pereira como ponto de negociação. Segundo ele, em outras duas vezes uma das mulheres já havia estado ali passando o migué em gente incauta. Mas só na segunda vez é que ele descobriu se tratar de uma golpista. Sandro contou que, em uma das ocasiões, um policial Civil foi até a lanchonete e pediu para ver as imagens das câmeras de segurança, indicando que a mulher filmada se tratava de uma estelionatária.
Assim que foi avisado por uma das funcionárias que a mesma mulher da filmagem estava na lanchonete novamente, o comerciante avisou a polícia Civil que, por sua vez, acionou a Militar. Como os homidalei estavam demorando pra aparecer, Sandro resolveu ajudar a família e deu o toque de que achava que aquilo tudo era uma armação. Quando eu vi que ela saiu fora, avisei a família, comentou.