Coluna Existir e Resistir
Por Coluna Existir e Resistir -
Peles que brilham
Maria Paulina Pereira da Silva
Em Santa Catarina nem todas as peles se escondem do sol. Algumas sombreiam as ruas com sua nudez desvelada em faces, braços, pernas e pescoços que brilham sob qualquer luz...
Para estas não existe muita propaganda. Afinal, o sul é a Europa brasileira e por aqui parece que a escuridão da escravização nem passou e que foram as mãos brancas e europeias que cuidaram de tudo, desde o plantio das lavouras, construção das cidades, passando pelo trabalho nos portos e pela perigosíssima pesca da baleia.
Pelo que contam, não houve participação dos negros na construção dos lugares que habito. Parece que meus ancestrais sentaram na senzala e apenas aguardaram a assinatura da Lei Áurea que os libertaria.
E são essas mentiras a respeito das pessoas de África que precederam os 23,29% de negros deste estado que nos assombram, nos apagam.
Para a negritude, de maneira geral, não é novidade ser social ou economicamente invisibilizado no Brasil. Mas viver em um estado onde, além disso, existe a negação declarada da sua existência ou coparticipação nos processos de desenvolvimento do lugar é desafiador e doloroso.
A sensação de não pertencimento te persegue e assombra, pode te fazer acreditar que de fato você não existe ou pelo menos não deveria existir e nem coabitar os espaços. Nossa saúde mental que resista.
Essa é apenas uma das faces de se “parecer” negro no sul do país. Além dos riscos cotidianos, mal nos reconhecemos ou encontramos um lugar que corte decentemente nossos cabelos. Ainda estamos descobrindo o essencial para sobreviver em uma sociedade tão competentemente racista, que é autorreconhecer, existir e agrupar para resistir.
Quando nos visibilizarmos e nos aquilombarmos, poderemos brilhar além das peles: uma constelação inteira de mentes das variadas cores do sul do país.