Naqueles verões de infância sempre havia uma “tragédia” que marcava a temporada: minha mãe que sofreu queimadura séria quando um bule de chá fervente virou por cima dela; Flávia, minha irmã, que levou um coice de uma égua; Thalia que ficou toda inchada por alergia ao Neocid; o pai que se queimou no motor de uma lancha enquanto pescava e por aí afora. Cada ano pegávamos alguns bichos-geográficos. Na época, o tratamento era difícil: éter, queimar a pele com nitrato de prata, pomadas e nada de eles morrerem. Coceira infernal que só acabava em maio, junho, já em Itajaí, com o reboco da parede junto à cama gasto de tanto coçarmos o pé durante a noite. Andar descalço pela praia, além das rosetas e ouriços, apresentava outro problema. As “salgas” no fim do dia eram lavadas e toda aquela água de peixe e camarão escorria para a areia. Isto formava uma “meleca” gosmenta e fedida que grudava no pé. Os cações-mangona eram limpos na praia. Enormes, alguns ainda chegavam com vida e era impressionante vermos os corações, depois de extirpados, ainda pulando na areia.
 
Já possui cadastro? Faça seu login aqui.
OU
Quer continuar lendo essa e outras notícias na faixa?
Faça seu cadastro agora mesmo e tenha acesso a
10 notícias gratuitas por mês.
Cadastre-se aqui
Bora ler todas as notícias e ainda compartilhar
as melhores matérias com sua família e amigos?
Assine agora mesmo!
Todos os anos revíamos os primos do Rio, filhos do tio Nico e tia Pompéia que, com dona “Eli” Konder Reis, passavam o verão na casa ainda hoje existente. Tia Bety Fleishmann inventou certa vez um piquenique na Praia Grande. Desenhou um relógio de sol na areia e ao meio-dia nos pôs a catar mariscos. Cozinhou tudo na água do mar e nos deliciamos com o almoço inusitado. Semanas depois, o Marco, meu irmão menor, ficou muito mal: febre alta, vômitos e diarreia. Meu pai levou-o ao Dr. Mayerle que lá veraneava e voltou com o diagnóstico de infecção intestinal. Descobrimos porque: ele e os primos, lembrando o tal piquenique, catavam todos os caramujos das pedras, arrumavam uma latinha, cozinhavam e comiam toda aquela porcaria...
Ao lado dos Konder havia um salão que vez por outra promovia uma sessão de cinema. Lá assisti um filme de terror que depois de adulto descobri ser um clássico do cinema alemão, de 1931, de Fritz Lang: “M, o vampiro de Dusseldorf”, vejam só, assistido na Armação!
As festas folclóricas eram atração em janeiro: terno de Reis; Boi-de-mamão, a terrível Bernúncia e as novenas de São Sebastião. No Carnaval promoviam um baile à fantasia no Salão do Bastinho. As fantasias de papel crepom coloriam o mar no banho depois da domingueira.
Comprávamos o essencial na venda, o pão na padaria e o peixe e o camarão do vizinho pescador, o Zé Português, que nos vendia tudo o que pescava. Falando em comida, meu sogro lá da “Armação dos alemão” contou-me que certa vez resolveram fazer, no domingo, um marreco recheado. Compraram-no de um pescador e o prepararam com capricho. Só que ao abrir o forno para ver se já estava assado, correu todo mundo; o cheiro era de peixe puro... Afinal, marreco de praia come o quê?