Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Anos de música
Houve um tempo que a maioria dos pais decidiu que os filhos deviam tocar algum instrumento musical. Eles elegiam um dos instrumentos da moda e o filho tivesse ou não algum pendor musical, lá ia ele para as aulas.
Os ditos instrumentos de moda eram o acordeon e o piano. Violão era tido como instrumento de menor importância, até que João Gilberto o tirou do limbo com a famosa “batida” da bossa-nova nos fins dos anos cinquenta.
O acordeon, que tinha a grande vantagem sobre o piano por ser portátil, era ensinado na cidade pelo professor Alcides. Classificados os instrumentos pelo número de “baixos” que eram aqueles botõezinhos tocados com a mão esquerda, iam dos menores de quarenta e oito, aos maiores de cento e vinte baixos. Importados da Itália, os Scandalli, Stradella, Verona. Alemão era o Hohner e nacionais os Universal, Todeschini e mais tarde, os Hering.
O grande método de ensino do acordeon era de Mario Mascarenhas, artista acordeonista com discos gravados, assim como Pedro Raimundo e Mário Zen. Da Itália vinham os LPs de Jo Basilie, acordeon e orquestra.
Comecei a estudar piano na dona Eloá Barbosa. Lembro-me dela nos mandando lavar mãos, pois saídos direto do quintal para a aula deixávamos nas teclas aquela “laminha” de sujeira misturada com suor. Daí passei a estudar com a irmã Maria da Cruz no Colégio São José e, mais tarde, com a dona Elisabeth Meinecke. Houve uma professora que deu aulas para muitos de nós em Itajaí, que deixou muitas lembranças. Era dona Helena Salinger, uma senhora bem alemã que vinha de Blumenau. Magrinha e empertigada descia do ônibus e iniciava a romaria pelas casas. Lembro-me dela, idade avançada, reclamando que não havíamos estudado bastante e tocando com vigor, elegantemente ereta no banquinho. Depois da hora completa, tomava um lanche e ia para o aluno seguinte. Murilo Krobel hoje confessa que adiantava o relógio para a hora passar mais depressa sempre que a dona Helena se distraía. Apesar disso, é o único daquela turma que continua a tocar, e muito bem!
Depois que os pais achavam que levávamos jeito para a coisa, comprava-se o piano: Schwartzmann, Essenfelder, Fritz Dobbert ou algum antigo, importado, com aqueles candelabros de metal aparafusados na frente.
Tanto no acordeon como no piano não se costumava ensinar música popular no ensino “sério”. Havia livros chatíssimos de exercícios e escalas que todos deviam estudar exaustivamente: o Czerny, o Cesi e mais ameno, o Schmoll.
Aos que não passavam por esta etapa da vida, restavam as fanfarras dos colégios e para os menores, as gaitinhas de boca e cornetinhas de plástico que sempre se ganhavam no Natal.