Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Tempos de rádio
Rádio em Itajaí era a Difusora. A pioneira, desde os anos 40, sob o comando de Dagoberto Nogueira, era dona absoluta do “pedaço. ZYK-9, se bem me lembro. Os aparelhos de rádios, pesadões, começaram a ser substituídos por outros, mais leves. Mesmo assim até válvulas ainda precisavam ter tempo para esquentar depois de ligado o aparelho. Isso até a chegada dos radinhos “transistor”. Claro, que, com os jovens ouvindo rádio todo o dia, começaram a questionar aquela história de: “Fulano oferece a Sicrana, com muito amor e carinho...” Apareceu então a Rádio Clube de Itajaí, com novo tipo de programação que obrigou a Difusora também a reciclar. Vieram para cá, novos radialistas. Antunes Severo, Édison Silveira, que entre outros alteraram a feição do rádio tradicional. E no auge desta era do rádio Silveira Junior criou um programa novo. Um tradicional programa de perguntas-e-respostas. Em uma cidade como Itajaí que só sabia que, no Rio, alguém tinha um programa chamado “O Céu é um limite”, onde quem respondia certo ganhava prêmios, causou um verdadeiro furor. Chamava-se “Seis pontos valem um conto”. Em linguagem de hoje, quem passasse pelas seis etapas, ganharia mil cruzeiros. Os candidatos se inscreviam dando o número de telefone e o tema que tinha escolhido para responder. Os telefones eram raros na cidade: 367, 457, 192... todos de três dígitos. Vários concorrentes se reuniam em um único número, para esperar o sorteio do número do candidato da noite. Os temas eram vários: Cultura geral, Sagradas escrituras, Geografia, História, Ciência Naturais, Literatura, etc.
Na noite do programa, um por semana, a cidade parava. Os cinemas tinham pouco público e todos iam para a “boca do rádio”. O número do telefone era sorteado. O concorrente atendia. As perguntas, difíceis e capciosas eram feitas. Havia tempo certo para a resposta. Um “tic-tac” de fundo deixava qualquer um nervoso. Claro que alguns candidatos armavam uma equipe de consulta para auxiliá-los na hora “H”. No entanto, como os nomes eram sorteados e os temas muitos amplos, essa ajuda em dia incerto não contava muito. A cada resposta correta, um “Absolutamente certo” dito pelo Antunes “Absolutamente Severo”.
Não me lembro exatamente os anos deste programa: acho que 1959, 60, 61. Meu pai com toda a cultura que tinha e ainda tem, se inscreveu para responder no telefone do Waldemiro Carlsson, casado com a Branca, sua prima. Na noite do programa me fazia acompanha-lo até a casa deles. Nunca foi sorteado. Se fosse, acredito que ele teria feito bela figura. O pitoresco de tudo isso era o fato de que todos os que se inscreviam para responder sobre as Sagradas Escrituras eram Evangélicos. Isto comprovava a tese que a Bíblia de católico tinha cheiro de bolor; a dos Evangélicos, muito usadas, de sovaco... Amigo de meu pai, ex-seminarista, um expert em assuntos bíblicos, o seu Alcino Brandão se inscreveu para “tirar a teima”. Fui embora de Itajaí para o internato do Colégio Catarinense, antes que o programa acabasse. Não sei se o seu Alcino chegou lá.
Domingo de manhã, no auditório da Difusora que ficava em um prédio que foi demolido para dar lugar às Lojas HM, um programa de calouros. Chamava-se Clube Mirim. Dali lembro-me das performances do “Nêne”, no piano do “Balhu” no contrabaixo e da Cleusa Kleis que cantava como ninguém.
Nos domingos à tarde eram as partidas de futebol, narradas com paixão pelos locutores locais. A “barraquinha” onde eles ficavam era o único lugar abrigado do estádio Hercílio Luz. Quando o público passou a correr para ali se abrigar diante do temporal que caíaa, ela abarrotada balançou e desabou. Do que inflamada pela paixão do jogo que transcorria, ficou para história a frase dita pelo microfone: “Eu falei que esta merda não guentava...”.