Além de nos encontrarmos todos os dias nas aulas, inclusive sábados, nos reuníamos diariamente nos locais de refeição que eram dois; um restaurante no Centro Politécnico, local bem afastado e outro, bem no Centro, no Diretório Acadêmico. Este, situado, no segundo piso de um prédio antigo, ficava na esquina da rua Presidente Faria com a rua XV de Novembro, ao lado do prédio do correio.
Subia-se por uma escada larga de madeira e lá em cima tínhamos uma barbearia, salas de estar, de jogos, de reuniões, sanitários, a cozinha e o refeitório. A comida era tétrica. Podia-se melhorá-la pagando em separado um ovo frito... O cheiro ambiente era um misto de gordura, de sujeira e de coisa velha. No entanto, era onde todos nós, menos abonados, estudantes de fora, comíamos todos os dias.
A honrosa exceção era o almoço dos sábados. Serviam então um “virado-a-paulista” caprichado, que dava água na boca. No balcão de entrada vendiam umas batidinhas já prontas, de coco, maracujá, limão e outras de cores estranhas entre azuladas e cor-de-rosa, como aperitivo.
O “Tóti”, colega de Londrina, tomou algumas delas, almoçou lautamente e saiu para fazer hora-extra no escritório do professor Gustavo Gama Monteiro. Ai vale uma explicação: alguns de nós trabalhávamos por hora ou por tarefa nos escritórios de professores arquitetos nas horas vagas. Isto além de nos dar algum dinheiro extra, era altamente positivo no que diz respeito à experiência profissional que adquiríamos.
Chegando no escritório, o “Tóti” encarou a tarefa que lhe aguardava. Precisava cumprir sua produção semanal: terminar o desenho dos cortes e fachadas da catedral de Cascavel, projeto do Gama. Esta Catedral até hoje um belo exemplo de arquitetura, era circular, toda ela um “plissado” em casca de concreto que formava as paredes e a cobertura. Desenho difícil, trabalhoso, executado a nanquim em folhas imensas de papel vegetal e que não podia ter o menor erro.
Escritório deserto, ligou o rádio na música suave da Rádio Ouro Verde, e antes de começar , resolveu tirar uma sonequinha... Sentou na prancheta, cruzou os braços em cima do desenho, deitou a cabeça e apagou-se.
Acordou horas depois e..., pelo efeito das batidinhas, tinha babado! Alarmado viu a baba escorrendo em cima do desenho e o papel vegetal todo engruvinhado! Desesperado pensou em consertar – não havia jeito! Pensou em culpar uma goteira, mas não havia. Pensou em mil-e-uma desculpa esfarrapadas. E, para não dar vexame na segunda-feira, começou tudo de novo. Naquele fim de semana não deu nem para ir ao cinema.
