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Histórias que eu conto

Por Homero Malburg -

Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista

Falha de comunicação


Quando, em 1961, meus tios Hilário e Bernadeti saíram de Itajaí para morar em Curitiba, levaram com eles duas empregadas fidelíssimas e dedicadíssimas: a Luzia e a Pataca. Ambas de cor, torcedoras fanáticas do Marcílio Dias, e por, dificuldades de infância, absolutamente analfabetas.

 

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No natal de 1960 ainda em Itajaí, meu tio promoveu na madeireira uma festa de confraternização dos empregados, coisa raríssima na época, e fez o Saulo Nascimento se vestir de papel noel. Ele com sua voz grossa que lhe valia o apelido de “Trovão”, mais assustava do que agradava as crianças. A Pataca que nunca tinha visto tal coisa, apavorou-se de tal modo que o Saulo, muito “sacana” corria atrás dela pelo meio das pilhas de madeira. Na mesma época apareceram por aqui uns helicópteros que para ela eram os “astrocópios”,  também motivo de puro pavor.

Em Curitiba, adaptaram-se bem e tornaram-se ambas torcedores fanáticas do Ferroviário, mesmo porque lá jogava o Idésio, cria do Marcílio Dias. A Luzia, sempre de rádio a todo volume na Rádio Clube Paranaense, não perdia uma “resanha”, como ela mesma dizia.

Luzia era exímia cozinheira; Pataca cuidava da limpeza da casa, adorava “pilotar” um aspirador barulhentíssimo. Embora sem saberem ler mas donas de imensa memória visual, compravam todos os produtos pela cara da embalagem e jamais se deixavam enganar com preço ou com o troco.

Nas férias de julho passávamos dias lá em Curitiba e a grande diversão era dar susto nas duas. Na época foi noticiado que havia na cidade uns bandidos mascarados e, é claro, que o Saulo se fantasiava e pulava de dentro de um armário em cimas delas.

Morei um ano com eles, 1965. Como precisava acordar cedo para tomar o ônibus da faculdade e não adiantava deixar bilhete pedindo para acordar-me em determinada hora, desenhei então um relógio na cartolina com os ponteiros móveis, pendurava na cozinha e elas sempre me entenderam.

A televisão era novidade. Impossibilitadas de ler, o nome dos programas eram ditos como o ouvido entendia: “Seventh Seven Sunset Strip”,”Mister Lucky”; “Os intocáveis”, eram ditos de modo puramente arrevesado. Adoravam a novela em versão curitibana:  “O direito de nascer” e não perdiam um capítulo. Para ver TV, a Pataca arrumava-se toda, sentava-se e cobria-se de tal maneira que o locutor não tivesse a menor possibilidade de ver suas pernas.

Certa vez foi comprado um aparelho de TV novo, marca Admiral, móvel belíssimo, com um detalhe a mais: controle remoto. Ao sentar no sofá para ligar a televisão, tia Deti não o encontrou. Gritou bem alto: - ‘alguém viu o controle remoto?”. Ao que a Luzia, da cozinha respondeu: - “O que? O terremoto? E a Pataca, lá da lavanderia, deu o desfecho: - Porque? Alguem tá com febre aí?


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