E o Vasco chegou com a base da seleção campeã do mundo em 1958. As mocinhas ficavam eufóricas com a presença do capitão Bellini e do meia Orlando, os galãs do time, circulando pelo centro. A Copa Jules Rimet foi exposta na vitrine da Casa Macedo.
A partida realizou-se no campo do Barroso e era verdadeiramente impressionante a diferença entre o futebol jogado pelos dois times. A bola, para o Vasco, não conhecia buracos do campo. Corria fluida de pé em pé, domínio perfeito, chutes precisos, e tudo com extrema facilidade e naturalidade. Nós, boquiabertos, víamos o Sabará, por algumas vezes, parar bola em cima da linha do nosso gol, levantá-la para um companheiro que viesse de trás, em um preciosismo de uma assistência no basquete dos Globetrotters.
Terminou cinco a um. Nosso único gol, do Edésio, que mais tarde faria sucesso na Ferroviária de Curitiba. Falei em times da cidade porque me lembro de pelo menos cinco deles disputando o campeonato da LID: Marcílio, Barroso, Estiva, Lauro Müller e Cimenport, este com camiseta vermelha que lembrava os soviéticos pelas letras estampadas: CCCP (Cia Catarinense de Cimento Portland).
O folclore, porém, ficava por conta da dupla Marcílio e Barroso. Ambos os clubes fundados em 1919; o primeiro em março e o segundo em maio, por conta de divergências internas sobre quem seria a madrinha de uma iole, naqueles tempos de esportes náuticos.
Os partidários da Srta. Virgínia Fontes se retiraram e fundaram um novo clube. Por provocação ao “marinheiro” Marcílio, criaram o ”Almirante” Barroso. Meu avô Bruno, um dos fundadores do Barroso, fez com que nossa ala da família fosse barrosista, embora alguns de seus irmãos permanecessem marcilistas ferrenhos. Mesmo nos anos de 50 e 60, sem remo, só com futebol, era muito evidente a rivalidade entre as torcidas.
Há uma história que isto bem reflete: o prefeito Lito Seára resolveu pintar o edifício da prefeitura. Perguntou então a opinião de seu engenheiro, Dr. Nelson Riskalla, sobre as cores. Ao que ele – um filósofo – respondeu: “Verde e branco”, porque daí o senhor agradaria pelo menos os barrosistas. Pintando de qualquer outra cor correria o risco de não agradar ninguém...
O futebol do interior era jogado da maneira como se sabia e como se podia, apesar de todo o esforço de jogadores e dirigentes. Jogos de time bons, de São Paulo e Rio, só se viam no cinema, antes do filme, em pequenos “flashes”com muito atraso, no Jornal Canal 100.
Os jogadores contratados vinham para Itajaí normalmente com emprego garantido pelas empresas da cidade e, principalmente, pelo banco INCO. Na verdade, existia pouco dinheiro mas muito amor à camisa. A maioria dos jogadores vindos de fora aqui ficou e constituiu família.
Contam que o Marcílio contratou certa vez um jogador do interior do estado. Como chegou tarde da noite, o alojaram no Grande Hotel, do seu Prudente. No dia seguinte ele chamou o seu Ari Garcia, bem cedo, dizendo que queria ir embora pois temia não se acostumar com cidade grande.
Afinal, não tinha conseguido dormir direito, pois de madrugada o burburinho e o tráfego na rua já eram muito grandes. Só sossegou quando lhe explicaram que a cidade era pequena e o barulho era por conta do dia de feira livre, realizada no pátio atrás do Correio, bem defronte ao hotel...