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Histórias que eu conto

Por Homero Malburg -

Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista

Corpus Christi


Sempre aguardávamos a festa com muita ansiedade. Pelas barraquinhas e pela procissão com as ruas enfeitadas. Contaram-me que o costume de decorar as ruas surgiu com minha tia, Regina, que estudava em Florianópolis e de lá trouxe a novidade. No início, era um trecho pequeno, só em volta da Matriz velha, mas a coisa pegou a partir da metade dos anos quarenta e ficou até hoje..

Quando pequenos, nós guardávamos as tampinhas metálicas de garrafas, para forrá-las com papel laminado dourado ou prateado. As donas de casas guardavam borra de café, secavam-na e peneiravam, para obter um material de cor forte, usados para os contornos. As madeireiras forneciam o pó-de-serra, de pinho, branquinho, o ideal para ser tingindo com anilina. A serragem de madeiras mais escuras permaneciam ao natural.

O dia amanhecia já com aquele burburinho pelas ruas do material sendo transportado. Os moldes feitos de sarrafos para os trilhos e os desenhos dos tapetes grandes em papel pardo e em tamanho natural que eram estendidos no chão e cobertos com a serragem colorida. OS detalhes ficavam por conta das tampinhas e pétalas de flores. Normalmente amanhecia frio e a torcida era para que não chovesse. Ventava, sim, mas sempre havia os regadores cheios para manter úmida a serragem e impedir que voasse.

Haviam verdadeiros artistas nesse mister. Os tapetes da família Deolla eram aguardados com curiosidade. Eles sempre inovavam com arte e bom gosto. Houve um ano que moldaram uma Bíblia aberta em pirão de farinha de mandioca. Ficou linda, mas rindo, imaginávamos o padre atolado na Bíblia, quando a pisasse. Aliás, o padre carregando o Santíssimo era o primeiro a pisar nos tapetes e o povo o seguia. Certa vez, meus irmãos pequenos que tinham trabalhado toda a manhã, ao verem o vigário passar, não se contiveram e para horror de minha mãe, gritaram indignados: “sacanagem, padre Egídio”!

A festa no pátio da igreja nova durava uma semana. As barraquinhas eram dirigidas pelo pessoal da paróquia. A do ratinho que solto no meio de uma rosa de casinhas numeradas, escolhia uma entrada. Outra do carrossel do cavalinhos sempre sob o comando do meu avô, o seu Leôncio. A da roleta; tiro ao alvo; das argolas, etc. Bom era jogar no bingo onde haviam os “cantadores” que animavam a festa com “dois patinhos na lagoa”22, começou o jogo (número 1); o vovô (90); Raaaaasssos 20!; idade de cristo (33), entre outas bossas.

Dona Elsa Fick comandava a cozinha. Fazia seu filho, o Hilário percorrer de caminhão o interior do município para arrecadar os donativos para a festa: galinhas, perus, porcos, línguas, churrascos, ovos, farinha, batata e todos os gêneros necessários para o variado cardápio. E o povo doava tudo com imenso prazer. Era para a festa da igreja, parar terminar a nova Matriz! E com as “tômbolas” e rifas que corriam durante todos este tempo, entrava muito dinheiro para obras. O trabalho era voluntário e todos trabalhavam muito. Para nós, garotos, sobrava jogar nas barraquinhas com o dinheiro que o pai nos dava. Vez por outra, dar as primeiras paqueradinhas nas meninas que, de vestidos rodados, corriam pela festa. Naquele pátio de areião, a gente quase sempre de roupa nova, podia brincar a vontade. Afinal, era o grande acontecimento do ano!


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