Coluna Tema Livre
Por Rosan da Rocha - rrocharrosan@gmail.com
Não é fácil ser mulher
A violência contra a mulher no Brasil é de um machismo atroz. Começa com a violência social em não ter as mesmas oportunidades de emprego, receber um salário menor e ser menosprezada em várias profissões.
Passa pela violência psicológica, com diversas ameaças, constrangimento, humilhação, desvalorização, atitudes que rebaixam sua autoestima.
Ainda, infelizmente, tem-se o mais grave que é a violência física, com agressões diversas efetuadas por cônjuge ou ex-companheiros, em um assustador índice de ser o 5º país do mundo no ranking do feminicídio. Mas não é só.
A violência sexual está muito presente em todas as camadas sociais. A mulher ainda é considerada um objeto nessa sociedade extremamente machista.
A mulher não tem liberdade sobre o seu próprio corpo. E tal afirmação fica bem evidente em dois casos atuais: o primeiro, de uma menina de 10 anos que foi estuprada e, ao querer abortar legalmente, o hospital e a Justiça a impediram, mesmo com o consentimento e pedido de sua genitora.
Sobre o manto de que a menina tinha em seu ventre uma vida já com 22 semanas de gestação e que abortar seria um “assassinato”, não faltaram pessoas que defendessem a possibilidade da criança, contra a sua vontade, hoje com 11 anos, levar adiante sua gravidez, ignorando o fato decorrer grande risco de morte, contrariando até mesmo o disposto na Lei Brasileira, que autoriza o aborto em tais casos. E olha que a Lei não menciona o tempo de gestação para tal procedimento. Em verdade, tais pessoas defendem o direito ao nascimento e não à vida. Para elas, pouco importa se o bebê terá o que comer, família capaz de cuidar e uma vida digna. Chegam ainda mais longe com a sórdida ideia de que a criança estuprada tem a obrigatoriedade de doar sua prole assim que nascer.
O segunda caso é de uma mulher adulta que foi igualmente estuprada e, após descobrir sua gravidez já em estado avançado, resolveu parir e doar. Pronto, foi massacrada nas redes sociais como se tivesse cometido um crime horrendo. O que ela fez foi um gesto nobre e perfeitamente legal. É adulta, tem discernimento, e resolveu não criar um(a) filho(a), produto de crime, não esperado(a), programado(a), repassando para pessoas que esperam ansiosamente por um bebê.
Mas essa sociedade machista não perdoa, detona os dois casos justamente por serem mulheres e, assim, não podem ter liberdade sobre seu próprio corpo e atitudes.
Ambas são amplamente amparadas pela Justiça e devem ser acolhidas em uma sociedade igualitária, sem preconceito, machismo ou misoginia.
Já no Brasil cabem duas frases que li nas redes sociais: “O homem é contra o aborto até engravidar a amante” e “ Se o homem engravidasse, o aborto legal poderia ser feito em qualquer agência dos Correios”.