Em 1909, o escritor italiano chamado Fillippo Marinetti lançou um manifesto, apontando os desejos do século que se iniciava. Cento e vinte anos depois, podemos analisar as previsões desse visionário, ou melhor, sentir seus efeitos.
Começava assim o texto: “Para que olhar para trás, no momento em que é preciso arrombar as portas do impossível? O tempo e o espaço morreram ontem. Vivemos já no absoluto, pois criamos a eterna velocidade onipresente.” Naquele início do século XX, as máquinas e os símbolos do progresso chegavam derrubando valores sociais e causando impactos visíveis, com cidades que cresciam assustadoramente e as fábricas contaminavam os céus. Marinetti era um visionário otimista que enaltecia o progresso como uma forma de melhorar a vida.
Da caneta tinteiro ao laptop, do rádio ao palmtop, do papel às telas digitais. Impactos tecnológicos que nos dão a (falsa) sensação de controle sobre o tempo e o espaço. Os efeitos já começam a dar notícias. Não quero, claro, endeusar e, muito menos, destruir os recursos tecnológicos, como se estivesse numa luta eterna entre o bem e o mal. Mas como processar essa overdose de informações? Como preservar a memória num tempo em que tudo é efêmero?
Poucos anos antes, nossas discussões estavam centradas nas telas e em seus malefícios. Preocupamo-nos tanto, e tão pouco tínhamos a fazer , que ela aprisiona hoje crianças, adultos e idosos. No máximo, pulam entre um programa e outro, zapeando com o controle remoto na mão, ou vão de um site ao outro, procurando ocupar a vida com imagens em um ritmo alucinante. A cultura diversificada de imagens e sons dispersa sua atenção para o múltiplo, o diverso, nos cacos de uma cultura digitalizada. Hoje é o dia. Sempre o instante. Sempre o efêmero. Pressa, tic-tac, pressa.
Reconheçamos que estamos em uma situação delicada. Assumir o desafio de conviver com a tecnologia tem sido o mote nas conversas de pais e educadores. Descuidamos do futuro de nossos filhos e não percebemos o presente deles.
O conformismo com o que já está posto, talvez, seja o maior problema. A frase que finaliza as discussões é o que me preocupa: “É assim, fazer o quê?” Mentira. Os caminhos podem ser redesenhados. Arrisque um novo toque que o humano reage.
Muitas vezes, a única verdade em uma tela é que a tecnologia anda vencendo o que (ainda) resta de humano em nós. #humanidadeagora.
Fica a dica:
ELE se apaixona por ELA. ELA se apaixona por ELE. Nada de novo no mundo hetero-cis-normativo. Mas... ELA é um sistema operacional. E agora? O filme ELA (2014. Direção: Spike Jonze) conta uma história de amor incomum, explorarando a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia. Uma bela metáfora para o estado presente do que, ainda, resta de humano por aqui.