Temos uma caixa que guarda memórias. Daquelas que um dia nos tocaram, acolheram, causaram repulsa ou simplesmente nos deixaram com um sorriso largo. Nessa caixa, tão valiosa, guardamos tudo o que - não sendo considerado útil em uma sociedade tão pragmática – nos dá prazeres e alegrias.
A música, o cheiro de pão no forno, uma paisagem que nos tira fôlego, a beleza da pessoa amada e, claro, a literatura. Essas coisas não são mensuradas e podem facilmente ser descartadas ou consideradas inúteis, mas compõem aquilo que chamamos experiências.
Mexa aí em tua caixa de memórias e perceba que facilmente te lembras das coisas que ficaram registradas porque marcaram tua presença no planeta. Só ficam aquelas que mudaram teus sentidos sobre o mundo. Sejam elas agradáveis ou não. O resto, vai fora.
Aprendi a gostar de ler quando vi que com a leitura poderia sair da cidade mesquinha em que nasci e voar por aí. Nos livros, conheci cidades, outras águas, pessoas e ainda tinha aventuras, medos e um cadinho de sonhos que passaram a morar em mim para o resto da vida. Foi a leitura que me tirou da solidão de uma cidade interiorana e ainda me brindou com universos muito mais amplos do que a pequenez de um lugar provinciano e desigual. A leitura que moveu meus pensamentos para outros mundos.
Convivo com tantas vidas e dou atenção aos detalhes que sempre me pegam pela curiosidade. Sou um escritor. Vivo disso. Mas é a leitura que ocupa completamente minha caixa de memórias.
Lembro-me de personagens literários que foram meus amigos por anos. Convivi com um pé de laranja (que não era lima), vivi aventuras nos pampas sem um cavalo, mas sentindo o cheiro das ervas de Ana Terra, e ficava emocionado ao pensar na dura vida dos meninos de rua na distante cidade de Salvador. Nunca perdi de vista a culinária de países latinos quando lia Isabel Allende ou Gabriel Garcia Marques. E um espelho nunca foi o mesmo depois de minhas passagens por Carrol e sua Alice. Ahhh! A literatura nunca me deixou pensar pequeno. Os voos sempre são em céu aberto.
O que é um bom livro? Antes de qualquer coisa ele precisa seduzir. O novo pensamento sempre começa com um bom enigma. Você tem a mesma sensação quando está diante de um bom mágico que faz algo inexplicável parecer fácil. A vida pede que sejamos seduzidos para que nossos pensamentos criem outros e, de repente, há uma rede deles povoando nosso cérebro.
A leitura tem essa mágica que só acontece quando somos provocados por nossos sentidos. Só assim, e tão somente assim, experienciamos nossa mais profunda humanidade com uma interpretação da vida mais ampla e plural.
Fica a dica:
Hoje tem lançamento do 4º FLI - Festival Literário de Itajaí - na Biblioteca Pública Municipal, com uma programação que convida você a abrir janelas. Às 19h. Vai lá e voe com a gente.