Espaço InovAmfri
Por Paulo Bornhausen - pbbornhausen@gmail.com
Capacitação de talentos para sair da crise
A estagnação em que o Brasil se encontra está refletida nos rankings internacionais. Um dos últimos a apresentar um quadro triste do Brasil de hoje é o Ranking de Competitividade Digital, no qual mantivemos a 51ª posição entre as 64 nações avaliadas pelo International Institute for Management Development, em parceria com a Fundação Dom Cabral no Brasil. É pouco para um país que deseja se colocar entre os maiores players internacionais. Neste ranking, não conseguimos liderar nem mesmo na América Latina, onde o Chile, na 39ª colocação, está na nossa frente. Entre os BRICS, ficamos à frente apenas da África do Sul.
Para entendermos as dificuldades do Brasil nesta área, precisamos avaliar os pontos que compõem a pesquisa. O ranking analisa indicadores agrupados em três frentes. O grupo ‘Conhecimento’ abrange os indicadores relacionados à formação de capital humano e às condições para descobrir e aprender novas tecnologias. O fator ‘Tecnologia’ considera a capacidade geral de desenvolvimento de tecnologias. Já o grupo ‘Prontidão Futura’ elenca dados sobre o preparo da sociedade para assimilar as novas tecnologias.
O pior resultado do Brasil está no item ‘Conhecimento’. No subfator Talentos, superamos apenas a Venezuela. O relatório é enfático ao dizer que, neste ponto, o Brasil nunca saiu das últimas colocações do ranking. É lamentável para um país, onde a cultura empreendedora e engenhosidade são marcas, ver o talento da sua gente sendo pouco explorado. O relatório da Fundação Dom Cabral aponta como causas “a ausência de habilidades digitais e tecnológicas na educação básica, a baixa percepção do empresariado de que há estratégias de gestão das cidades que apoiem o desenvolvimento de negócios e a baixa atratividade de capital humano qualificado”.
Outro ranking divulgado nesta semana reforça a mesma avaliação. O Índice de Competitividade Global de Talentos, da escola de negócios francesa Insead, trouxe o Brasil na 75ª posição entre 134 países. Apesar de subir cinco lugares em um ano, ainda estamos muito aquém das nossas condições em relação à formação de pessoas, atração de talentos e retenção de profissionais. A pandemia, os cortes nos investimentos em Ciência e Tecnologia e a longa crise econômica têm feito o país perder os seus talentos para o exterior e não conseguir trazer profissionais de outros países.
Se o maior desafio está na capacitação de pessoas, as políticas públicas devem se voltar para a preparação do capital humano para a economia do futuro. É preciso um choque de cultura de inovação na educação e nos currículos. Na minha gestão à frente da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, apoiamos algumas ações para preparar as crianças para a economia digital, como o projeto-piloto ‘Educação TEC’, com a estratégia de estímulo ao pensamento criativo por meio da prototipagem; e o ‘Programando o Futuro’, para ensinar linguagem de programação para crianças. Para os jovens e adultos, lançamos o ‘Geração TEC’, uma iniciativa de capacitação para o mercado de tecnologias. Estes dois últimos foram replicados pelo programa InovAmfri na região com grande sucesso.
O Brasil precisa urgentemente preparar e lapidar os seus profissionais para o futuro e mantê-los em território nacional. O Brasil possui talentos demais para se contentar apenas com a posição de exportador de commodities. Há um imenso potencial também para a indústria de transformação 4.0 de alto valor agregado e serviços de ponta. O que precisamos é de pessoas capazes de navegar pelos mares da inovação para nos levar ao porto seguro da economia digital, do emprego de qualidade para os jovens e de renda maior para as pessoas.