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Por Coluna esquinas -

Pantufas para pisar na lua


Todas as memórias, que guardo em meus recantos íntimos, estão cheias de cheiros, sabores, cores e um tanto de sorrisos. O sorriso, em mim, nunca foi largo e fácil. Sempre veio acompanhado de promessas, perdas e solidões. Minha infância teve um peso grande nessa trajetória de sorrisos raros.

 

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Cresci ouvindo de minha mãe que não me veria crescer. Que era velha para criar um filho. Que minhas irmãs me dariam o que comer e educação. Pois é! O universo se encarregou de dar uma lição e foi dando corda até que a velha charrua completasse 96 anos. Enrrugadinha e pequenina, a velha Geni deixou que algumas coisas acontecessem antes de encerrar o ciclo por aqui. Esperou, pacientemente, que suas palavras repetidas, incansavelmente, virassem realidade.

Uma mulher de poucas – e sábias – palavras não poderia partir sem, antes, ter a certeza de que as suas palavras criaram filhos, netos, bisnetos e alguns mundos. Eu, inseguro e inquieto, demorei a compreender que palavra de mãe é benção.

Depois de menino grande, já estudando fora e levando a vida com um filho pequeno para criar, fui ouvindo que “precisava mesmo era de uma mulher para me cuidar”, considerando aqui que, para uma mulher nascida no começo do século XX, isso significava lavar, passar, cozinhar e atender às necessidades de um homem. Eu revirava os olhos e torcia a boca ouvindo esse conselho, acompanhado de um ‘ tu vai ver, é assim!”. Não foi bemmm assim, mas tenho uma grandiosa companheira, que está junto em tudo que a vida pede. Lavamos, passamos, cozinhamos e atendemos às necessidades um do outro. Isso, para mim, é cuidar. Dona Geni tinha, lá, suas razões.

Essa sábia mulher, nascida e criada na mesma rua, na mesma casa, também dizia que eu tinha que achar um canto meu para assentar a vida. Repetia, a cada encontro, que “pedra que muito rola não cria limo”. Aqui estamos mudando para um canto nosso, com pátio, árvores, ribeirão e uma terrinha para criar raízes do alimento e dos sonhos. Dona Geni, uma vidente sábia.

Ouvi as últimas palavras da sábia Geni quando liguei para ela, como costumeiramente fazia nos domingos. Disse o que repetia sempre: “Venha me ver, eu não saio mais”. Não fui. Não deu tempo. A pandemia dificultou movimentos e contato. Poderíamos colocar em risco todos.

No último aniversário dela, resolvemos dar um presente. Eu achei a loja em Alegrete/RS, Gika ligou e encomendou uma pantufa e meias coloridas. Entregaram no dia em que completou 96 anos. No dia seguinte, o gelado vento minuano assobiava lá fora e ela calçava pantufas quentinhas.

Soube, alguns dias depois da partida dela, que foi sepultada com as pantufas nos pés. Voou com os pés cobertos por esse calçado que usamos em nosso aconchego de casa. Voltou com os pés quentes. Suas palavras ficam ressoando para que a vida daqui seja tranquila.

Um pé gordinho e quente pisou na lua. Olhe para cima e contemple o brilho agora maior.

Uma palavra materna sempre dá colo aos nossos sonhos. A lua é testemunha.

Ela partiu com um sorriso tímido e pantufas nos pés.


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