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Para ler ao som de Mercedes Sosa e suas canções de ninar para adultos
Fico suspenso entre dois tempos. Escrever é uma questão de transformar-se no tempo. Comecei escrevendo redações escolares e, um dia, descobri que gostava desse momento solitário e de tornar-me algo que existe por meio da leitura alheia. Claro que nao sou o mesmo depois de conviver com esse momento semanal nas ESQUINAS com os leitores.
Num tempo em que ctrl C ctrl V tornam-se a tônica acredito que todos aqueles que hoje insistem em escrever suas opiniões em jornais ou livros são teimosos. Eu? Bem.. vocês sabem...
Quando a internet chegou muitos decretaram o fim dos livros. Erraram! Os livros teimosos viraram ebooks e o prazer em abrir um livro empoeirado transformou-se em Touch Screen buscando incríveis bibliotecas dentro de um minúsculo Kindle. Mas a mágica da leitura ainda permanece viva.
Na semana em que comemoramos o dia das crianças, quero voltar no tempo e mostrar que o erro dos que decretaram o fim da escrita é de responsabilidade da imaginação infantil. Minha infância foi repleta de aventuras. Morava em um bairro pequeno em uma cidade um pouco maior do que meu bairro. A rua em que moravamos era circundada por um rio. Entre minha casa e o rio tinhamos um quintal feito de árvores com formatos infinitos que se transformavam em cavalos, naves espaciais ou aves pré-históricas para voarmos. Os esconderijos eram de todos os tipos e quando queriamos mesmo sumir dos olhos das mães? Nada impedia de darmos ouvidos à nossa criatividade.
O que há em comum entre as possibilidades da escrita e a imaginaçao infantil? Ambas permitem que sejamos outro. Posso ser pirata, maluco ou médico. Posso ser feliz com meu cavalo de pau ou viver as mais fabulosas aventuras em um lugar distante. Eu coexisto com outros. Percebem que bela é a tarefa da criança no mundo? Não permitir que as neuroses capitalistas matem a imaginaçao, a inspiração, a vida enfim! Mesmo com um vasto mundo virtual, a boa e velha brincadeira ainda está ali no bicho de pelúcia no canto ou a bola que reúne muitos para um bom e velho joguinho.
Como disse no primeiro parágrafo, eu estou suspenso entre dois tempos quando escrevo e agradeço pela criança que fui. Escrever é um exercício de ser criança constantemente. Abusar da imaginação e fazer incursões pela língua materna para deixar as ideias registradas no papel. Quer privilégio maior? Ser criança toda semana e brincar de ser outro conversando com leitores. Obrigado às crianças por manter a literatura viva.
Obrigado aos leitores semanais por alimentarem a criança que vos escreve. Sua criança ainda vive?