Coluna Existir e Resistir
Por Coluna Existir e Resistir -
Direito invisível
Clarisse Caravaggio
Ainda hoje me deparo com a dificuldade em falar sobre o que se faz dentro das instituições em favor do povo preto. Dentre os vários mecanismos de defesa, a vida do povo preto sempre é a que menos importa na realidade, ouço falas diárias sobre a criação de políticas públicas que possam dar amparo para a população preta, mas quando olhamos para a ações realizadas ou realmente propostas o povo preto sempre é suprimido. E posso falar com propriedade pois quando é feita uma ação contra a violência doméstica, por exemplo, as modelos que ilustram os cartazes de divulgação são pretas, entretanto, quando se trata das realizações para o povo preto os números nunca são importantes. E acaba se tornando uma campanha genérica em que a representatividade está apenas no marketing.
Os pretos são quem mais morrem, mas na estatística o número é geral; quando falamos de agressão física, de violência obstétrica nunca vemos os reais dados e quando é solicitado espaço para fala, o termo que usam é recorte; mas como recortar a maioria de 56% da população brasileira e exemplificar com a minoria? Qual o real valor que temos? Qual a massa que queremos agradar? Falar sobe um assunto tão complexo realmente não é fácil e porque não damos espaço aos especialistas que tem esses dados extremamente atualizados?
Lhes respondo: Porquê é difícil ver um preto assumindo o papel que lhe cabe dentro do seu direito de fala, porque sempre somos vistos como incautos e ignorantes e quando um preto tem a inteligência, o conhecimento e a sabedoria somos tratados ainda como peça rara no mercado e nossas habilidades são vistas como afronta. Por isso a necessidade de resistir pra poder existir.
Nossa vivência não passará despercebida, não podemos continuar concordando com a necessidade de um não preto, para validar nossas falas. É chegado o momento onde mais que nunca não podemos nos calar nem deixar de ocupar nossos espaços de fala que são nossos por direito e mais imprescindível ainda: validarmos as falas de nossos irmãos pretos.
Somos a herança de um povo rico e sábio. Passamos por diversas humilhações, mas isso em nada nos torna indignos da real atenção de qualquer governo.
Sim existimos! Sim resistimos! E sim temos nossos direitos, direitos esses que são suprimidos, pelo medo da invalidação da supremacia racial.