Quando a criança nasce em uma família, tudo é novidade. Mamãe, Papai, e uma infinidade de palavras que vão se tornar frases, conversas. Juntos ao pequeno rebento os adultos vão se maravilhando com as coisas simples do mundo pelo olhar da criança. Por isso a importância de nos reeducarmos sempre. Canso de ouvir as expressões: Eu aprendi quando era criança ou muito comum ouvirmos: falam assim na minha terra.
Vamos por partes, crianças aprendem todos os momentos, e são extremante inteligentes, mas tudo para elas é novidade e muito desse processo é através da imitação. Reproduzindo gestos, falas dos seus entes queridos que lhe são próximos e referências de vida. Todo esse texto sobre infância vem pra dizer que tomemos cuidado para não reproduzir expressões racistas e se por venturar pronunciarmos perante elas, não se martirize ou diga para a criança esqueça ou é feio. Sem explicação essa atitude fica como algo proibido e atiça a curiosidade, não torne isso um tabu, se estiver num momento apto para explicar, explique de pronto! Se não, anote numa agenda, no celular e diga a ela que vai lhe contar uma história, com certeza ela vai ser seu melhor lembrete! Mas daí você vai dizer “como eu vou explicar que criado mudo era uma pessoa que era escravizada e ficava em pé ao lado da cama sem poder se mexer ou falar pra poder servir seus patrões e muitas das vezes até a língua lhe era cortada!” Como dizer isso a uma criança? Caro, leitor, não existe forma fácil. Existe começar a falar. Não romantizar ou pior ainda, mentir inventando uma história mirabolante. Caso tenha muita dificuldade, peça ajuda a alguma professora de preferência que trabalhe com histórias ou questões raciais, procure vídeos no youtube. Sei que o adulto é você, mas vamos combinar? Não sabemos tudo e é preciso pedir ajuda quando necessário.
A questão do “Eu aprendi quando era criança”, agora você pode fazer diferente com a criança que está perto de você. Mas agora: “O famoso falam assim na minha terra.” Sou filha de nordestinos e aprendi muitas expressões racistas, machistas, homofóbicas e capacitistas, então vem aqui e segura na minha mão, pois se trata de uma reconstrução diária, que dói, não é fácil, mas é possível.
Saímos do ano novo já tem um tempo, mas lembro firmemente que me era dito que a primeira pessoa que se deparava no ano, ditaria o restante dele, então tinha que torcer pra não ver um preto, um aleijado, um doente...vocês têm noção que têm pessoas que crescem e aprenderam isso com seus familiares e vão transmitindo esse emburrecimento por gerações? Então não! Nem tudo que os familiares ensinam está certo. A não ser quando a mãe manda levar o casaco ou o guarda chuva porque vai chover. Brincadeiras à parte, o que quero dizer é que existe conhecimentos populares que não fazem mal a ninguém, e outros que só reforçam preconceitos que assombram a humanidade.