Se aparece uma personalidade na mídia branca que utiliza trança, dread, turbante, enfim, algo relacionado à cultura do povo preto, automaticamente a acusam de cometer apropriação cultural! Mas o que é isso de fato? O que vai mudar na vida do povo preto proibir uma pessoa branca de usar tranças? Absolutamente NADA! Mas pera lá, vamos aos fatos para não escrever um texto baseado em achismos ou opinião pessoal.
Comecemos com o que é cultura. São costumes, comidas, crenças, artes, conhecimentos de um determinado grupo de pessoas de uma região. E apropriação? Conforme o dicionário etimológico, o termo apropriação tem origem latina e significa “[...] apoderação, apoderamento, posse de alguma cousa, tornar alguma cousa sua, de sua propriedade.” E juntando o termo apropriação cultural é tomar pra si a cultura de um povo como se fosse sua. Só que um individuo não consegue fazer isso, quem faz é a indústria, o mercado. Quando se coloca numa passarela uma modelo branca de tranças com trajes africanos, é mostrado ao mundo que o padrão de beleza é a mulher branca usando e quando se mostra a pessoa preta em um local periférico, marginalizado, sem o glamour, é visto como algo feio, sujo e fedorento. Quando se pensa em acarajé, automaticamente vem em nossa mente a imagem da baiana do acarajé, ancestralidade, Bahia. Agora imagine se um chef da Alemanha começa a dizer que quem inventou o acarajé foi a Alemanha? Que foi receita dele! E em todos os meios de comunicação isso fosse divulgado como verdade? Isso é roubo, é apropriar-se de uma comida que faz parte da cultura preta. Somos um povo miscigenado, mas na escola estudamos a História pela ótica do povo europeu, dos colonizadores que chegaram aqui e se apropriaram de uma terra que já tinha dono, mas nos livros são colocados como os “Descobridores do Brasil” e não como ladrões que cometeram genocídio e impuseram sua cultura aos índios e aos pretos. Em um dos textos que escrevi para essa coluna, falei sobre o poder do Black Money, e como o mercado enxergou nisso uma possibilidade de renda, entretanto o povo preto precisa brigar sempre por espaços na mídia pois a cultura preta vende, mas nossos traços, nossos corpos, não são europeus e para mídia não é vendável. Cada vez mais surgem influenciadores pretos que falam sobre o autocuidado, a autoaceitação, mas ainda é muito recente. Mulher branca de trança é linda e mulher preta ou homem são mais lindos ainda! Pois além de ser um penteado poderoso, traz pra nós parte da nossa história, carregamos com orgulho e ressaltamos nossos traços. E se aceitar preto em um país racista como o Brasil dói muito, mas é um ato de resistência e luta. Então, povo branco, use sim, mas quando o fizer, seja respeitoso. Nós pretos não temos o direito de impedir e nem de julgar, mas nos elogiem quando estivermos com nossa cultura.