Coluna esquinas
Por Coluna esquinas -
Imagino, logo existo
Estamos a um ano isolado sem encontros acolhedores com amizades, sem um espetáculo, sem um filme, sem uma gargalhada no boteco, sem estímulos sensitivos que nos fazem ser quem somos.
Os sábios da antiguidade clássica já diziam que somos dotados de duas faculdades essenciais: a imaginação e o intelecto. Em outras palavras, as bases de construção de nossas vidas passam pela sensibilidade. Somos e estamos no mundo pelo uso dos órgãos do sentido que dão materialidade ao nosso conhecimento sobre tudo.
Tudo o que se faz – desde cozinhar a ler, escrever, olhar um espetáculo, lavar roupas e até dormir - é NA imaginação. Uma pergunta simples tem a capacidade em gerar novos pensamentos que se dão NA imaginação. Dizia um sábio contemporâneo chamado Einstein que a imaginação é mais importante do que o conhecimento.
Depois de um ano sem entrarmos em um espetáculo teatral bem construído, com roteiro maduro baseado em pesquisas, figurinos cuidadosos e atores competentes, fomos brindados em assistir um ensaio aberto. Falo no plural porque meu filho caçula e minha companheira estavam comigo nessa experiência inacreditavelmente linda de imaginação, emoção e belezas. Choramos abraçados em agradecimento.
UM ANO sem entrar em uma sala de espetáculos! Um ano sem sentir cócegas no cérebro e provocar o riso, o medo, a graça, o sonho e então fomos brindados com esse convite acolhedor que merece nosso carinho e respeito sem uma interferência da tela. E no mesmo espaço dos atores com os cuidados e protocolos necessários em uma pandemia? A emoção foi tamanha que não cabe em uma crônica.
Um espetáculo de teatro não precisa, necessariamente, se ocupar da realidade. Um avião de pequenas proporções pode cair nas dunas feitas de madeira e tinta, o camelo pode ser de papel e o personagem vive seu mundo pela imaginação do público. Uma luz pode remeter nossa imaginação à morte ou ao socorro que chega na hora certa. Tudo passeia por nossa imaginação naquele breve instante do show quando somos recebidos na porta com recomendações divertidas até o instante que o ambiente muda com uma luz, uma melodia, um silêncio, um gesto pausado.
Ainda ouso dizer que uma das melhores maneiras de nos preparamos para o futuro é dar corda para nossa imaginação para que não nos tornemos escravos da realidade obtusa e dura. A capacidade e poder da imaginação carregam beleza e alegria e é exatamente por isso que ela é revolucionária. Tivemos, então, o privilégio de entrarmos em uma trincheira revolucionária chamada de teatro.
Encerro hoje com o genial Breton: Não é o medo da loucura que nos forçará a largar a bandeira da imaginação.
A arte sempre nos faz pulsar! Somos gratos! Somos artistas! Longa vida à imaginação.
Fica a dica:
Os espetáculos da Cia Mútua que tem uma trajetória que começou em 1993. Canal no youtube: https://www.youtube.com/user/ciamutua.