Coluna esquinas
Por Coluna esquinas -
Curto-circuito
“a verdade absoluta é, na verdade, obsoleta”
(André Pinheiro)
O curto-circuito ocorre quando uma corrente-elétrica com força acima do normal passa por um circuito elétrico com intensidade elevada, sofrendo uma queda e criando uma descarga que poderá danificar esse circuito.
Entramos em curto. Depois de tantos avisos sobre o caos em que nossa cultura estava e as confusões que nossa organização social andava causando em nossos cotidianos, estamos em curto.
Após as Guerras Mundiais o planeta entrou em colapso em um processo contemporâneo de mudanças significativas nas tendências artísticas, filosóficas, sociológicas e científicas.
Foram os anos 60 do Século XX que ouviram os primeiros gritos sobre o que estava por vir: movimentos de jovens antiguerra, ambientalistas avisaram sobre crises ambientais, mulheres chamam atenção sobre sua condição submissa ao patriarcado, negros reagiam a uma escravidão velada, organizações de trabalhadores denunciavam explorações.
Somados a esse contexto, vieram os avanços tecnológicos da era digital, a expansão dos meios de comunicações, a indústria cultural, bem como do sistema capitalista com sua cruel lei de mercado e consumo, e da globalização. Ou seja, passamos a ser educados para comprar qualquer forma de vida no shopping mais próximo.
Os resultados foram chegando com a lentidão necessária para que não percebêssemos o que estava acontecendo. E... veio um bombardeio de informações com um estilo de vida baseada na efemeridade, no narcisismo e no hedonismo e na busca incessante pelo prazer.
Até aqui nenhuma novidade. Já sabemos disso tudo, não é? O que ainda estamos tentando entender é como as bolhas criadas em redes sociais deram uma rasteira na chamada democracia e estão elegendo candidatos com ideias e ações de extermínio, exclusão, xenofobia e homofobia, com votos e aval de “cristãos” que se autodenominam cidadãos de bem. A partir daí, tudo muda não é mesmo? Uma volta – de supetão – para o passado pode assustar até os mais comportados revolucionários de redes sociais.
Estamos em pleno curto circuito em um mundo estimulado por sinais confusos que atrapalham fronteiras e pensamentos, sinais confusos que embaralham conceitos a ponto de cristãos defenderem fascistas, sinais que tiram as referências das gerações novas e deixa tudo propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível.
Resultado: tudo explode. Quando falo ‘tudo’ estou dizendo que pode explodir tanto a vida privada quanto a pública, o que já dá sinais em nossa prática social: o individualismo e a efemeridade das relações determinam o que é verdade ou não é. O resto é consumo e as incertezas continuam rondando nossas vidas.