Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
O TEMPO VOA
Acelerar ou retardar o tempo, pertence aos domínios da ficção científica, evidente. Mas não estou sozinho, pelo menos não nesse caso: cada vez mais, as pessoas reclamam da velocidade dos nossos relógios e calendários.
Só parece haver lentidão cronométrica quando se trata do tempo até o próximo salário... embora muita gente ache ruim da quarentena, não lhes dou razão: para mim, pessoalmente, a velocidade continua muito alta. Horas, dias, semanas, meses, anos – é prodigioso com conseguem acabar, literalmente, num piscar de olhos.
Lembro de uma história antiga na qual alguém pedia a Albert Einstein para explicar sem a fórmula E=Mc2, a Teoria da Relatividade. Ele teria respondido:
- Ponha um sujeito sentado junto de uma garota bonita por um minuto. Depois, coloque-o sentado num formigueiro pelo mesmo tempo. Ele vai entender perfeitamente o que é a relatividade.
Vejam que o conceito de relatividade, na explicação do sábio, está atrelada ao conceito de tempo – e me pergunto se a Física – já que não temos mais Einstein, nem o Steve Hawking, teria uma sugestão de como pensarmos essa loucura contemporânea. Nunca ouço alguém dizer “temos tempo de sobra”, sempre é “estamos em cima do laço”...
A própria condição planetária sugere o pânico. Quando George Orwell quis escrever sobre um futuro distante – isso em 1949, vejam que coisa mais antiga, eu já tinha até nascido!!! - usou o ano de “1984” – que já foi deixado para trás, inclusive em termos de maquiavelismo. Para ele, meio século à frente era uma eternidade. Um livro que nos parecia tratar de um futuro distante à frente, foi “O Ano 2000”, do americano Herman Kahn. Sendo que o ano dois mil realmente já está longe – para trás.
A gente ia à praia, olhava o mar, de noite via estrelas brilhando e pensava: “ah, tudo isso é eterno, nenhuma força humana pode nos tirar”. E tiraram: desvairado crescimento da humanidade está esgotando os mares ao mesmo tempo que a poluição escondeu as estrelas.
Quando se falava em desertificação do planeta, alterações climáticas, extinção de espécies, crise de água – isso pareciam problemas a serem empurrados com a barriga, nossos bisnetos que se preocupassem com essas espinhosas questões. E no entanto, já fazem DOIS ANOS que passamos o ponto de inflexão, isto é, o momento em que a degradação tinha retorno: agora, é ladeira abaixo.
E isso tudo aconteceu, como dizia minha avó, “enquanto o diabo coça um olho”...