Coluna Existir e Resistir
Por Coluna Existir e Resistir -
Thelma e a ascensão do povo preto
Na última segunda-feira toda a sociedade brasileira pode presenciar um marco na história da televisão e me atrevo a falar, um divisor de águas na temática visibilidade negra e representatividade. Durante anos de invisibilidade no protagonismo social e consequentemente não representado em espaços de poder. O negro não detinha o protagonismo do processo. A prática de menosprezar a imagem do negro na televisão brasileira, onde na maioria das vezes a figura preta era relacionada a papéis subalternos e estereotipados, era comum. Muitas vezes, quando não beirava o caricato, conotava a violência e criminalidade.
O fortalecimento das políticas públicas, agregado a pressão e mobilização dos movimentos sociais negros, fez com que o quadro fosse revertido. Protagonizamos séries, programas de TV, filmes, novelas, negros em papéis de destaque e representando personagens bem sucedidos já não eram tão distantes como na década de 90.
A importância de Thelma de Assis ganhar o Big Brother Brasil é muito grande e com isso tivemos a oportunidade de presenciar durante sua trajetória no programa. Única mulher negra da edição 2020, médica anestesista, adotada por uma família negra de classe média brasileira. Enfrentou todos os desafios de uma mulher negra no Brasil, que atualmente ocupa o lugar menos privilegiado na sociedade. Única preta na sua turma da faculdade, sem recursos e sofrendo todos os estímulos diários do racismo estrutural. Sem dúvidas inspirou e irá inspirar tantas meninas e mulheres a acreditarem na sua capacidade de vencer mesmo com todas as adversidadesde num país extremamente racista. Thelma, com suas características, seu discurso coerente e combativo torna-se mais um grande símbolo da luta antirracista. “O conselho ajuda, mas o exemplo arrasta”.
Como é importante essa vitória. Como ela é mais do que uma vitória individual. A votação de mais de 40% do público, mostra que o consciente coletivo está mudando. Atualmente brancos e negros entendem a importância da tão sonhada igualdade, que se perpetua com visibilidade e ocupação de espaços de poder. Falo de identidade, de representatividade, de exemplo. Hoje vibramos com todas as conquistas e trajetória da Thelminha, mas também pela capacidade da sociedade a ter enxergado vencedora. Sei que essa vitória não extermina o racismo, ainda temos muito o que fazer, muito espaço de poder para conquistar, levar nosso povo negro na linha de frente das pesquisas e geração de conteúdo. Precisamos igualar salários e oportunidades entre brancos e negros. A vitória dessa semana ainda é a ponta do iceberg, temos muita luta pela frente e drásticas transformações a fazer. Mas sou uma otimista e entusiasta de dias melhores. E a Thelminha acelerou com maestria essa evolução.
Obrigada, Thelma Regina de Assis.
* Pamela Fonseca, publicitária, artista, militante e produtora cultural.